CPI, tensão e caça às bruxas: as horas seguintes à Operação Lambuja na Câmara
- Adriano Novo
- 12 de jan.
- 3 min de leitura

Os momentos que se seguiram à Operação Lambuja na Câmara de Campinas, nesta quarta-feira (17) foram marcados por tensão, caça às bruxas e a articulação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O alvo da ação é o presidente da Casa, Zé Carlos (PSB), que lideraria um esquema de cobrança de propina junto a fornecedores em troca de vantagens. A investigação é coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Uma CPI está sendo costurada dentro do Legislativo. Um dos articuladores é o vereador Paulo Gaspar (Novo). “Nós, do Diretório Municipal de Campinas, repudiamos todo e qualquer ato de corrupção, e nos manifestamos a favor de uma diligente investigação interna para apurar os fatos. Nosso vereador, Paulo Gaspar, já protocolou um requerimento solicitando a instauração de uma CPI a fim de elucidar o caso, observando todos os trâmites legais”, posicionou-se a direção da legenda.
Outros dois vereadores fazem parte deste esforço: Nelson Hossri e Marcelo Silva, ambos do PSD. Este último, inclusive, admitiu ao Hora Campinas ser o autor da denúncia que resultou na investigação do Gaeco. De imediato, a defesa de Zé Carlos apontou o canhão para Marcelo Silva, acusando-o de “perseguição política”. Zé Carlos ainda não falou publicamente. Foi orientado por sua defesa a esperar ter acesso a todos os autos.
Neste contexto, o clima no Legislativo campineiro nesta quarta e manhã de quinta-feira (18) é de extrema tensão. Há desconfiança entre os pares, conforme apurou o Hora, de que mais elementos podem aparecer na investigação do Gaeco. Os promotores afirmam ter gravações que comprovariam o esquema de corrupção.
O Hora apurou junto a uma fonte na Câmara que Zé Carlos está isolado e que não será defendido pela maioria. O Legislativo tem 33 cadeiras. “Ele vai sangrar em praça pública até pedir afastamento”, afirmou a fonte.
Essa é, inclusive, um dos desejos dos vereadores que cobram uma reação firme da Câmara, para que não passe a ideia para a opinião pública de que estaria protegendo Zé Carlos, agindo de forma corporativa, ou jogando a sujeira para debaixo do tapete.
São necessárias 11 assinaturas para a viabilização da CPI. Há ainda a discussão interna sobre a possibilidade de se criar uma Comissão Processante (CP). Vai depender do que estabele o regime interno e sobre transcorrerá a quinta-feira. A esperar os próximos passos.
Entenda o caso
O Batalhão de Ações Especiais (Baep) da Polícia Militar (PM) fez uma incursão na manhã desta quarta-feira (17) nas dependências do prédio da Câmara Municipal, na Avenida da Saudade, e também no Teatro Bento Quirino, no Centro, espaço que tem abrigado as sessões ordinárias e extraordinárias em razão de reformas no edifício principal. A operação surpreendeu os vereadores e a direção do Legislativo. A ação é de busca e apreensão.
A varredura é coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com o apoio do Comando de Policiamento do Interior 2 e do Baep. Trata-se da Operação Lambuja, cujo objetivo é dar cumprimento a cinco mandados de busca e apreensão nas cidades de Campinas e Jundiaí.
Segundo nota da MP, a investigação realizada pelo Gaeco apura “esquema de corrupção envolvendo o atual presidente da Câmara Municipal de Campinas, Zé Carlos, e um advogado por ele comissionado no referido órgão”.
Defesa de Zé Carlos
O vereador Zé Carlos é defendido pelo advogado Ralph Tórtima Filho na Operação Lambuja, que investiga cobrança de vantagens indevidas. Tórtima informou que a defesa já requereu acesso aos autos.
“A juíza pediu que antes do deferimento, o MP se manifestasse a respeito do resultado das diligências. Então, só ao final do dia ou amanhã que vamos ter acesso ao conteúdo da investigação. O vereador foi extremamente colaborativo com os promotores, franqueou acesso às dependências que eles almejaram e deixou claro que não há nenhum problema”, disse Ralph Tórtima Filho.
“O vereador tem todo interesse de esclarecer imediatamente esses fatos. Ele quer dar uma coletiva, mas por orientação nossa, os advogados, ele o fará somente após o acesso às investigações. Vale ressaltar que não foi apreendido nenhum valor”, concluiu.
O que diz o MP
Apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do estado de São Paulo (MPSP) aponta que assim que o vereador José Carlos Silva, o Zé Carlos (PSB), assumiu a presidência da Câmara de Campinas, em janeiro de 2021, foi iniciado um esquema de exigência de vantagens indevidas. O órgão aponta ter gravações que comprovam ato de corrupção passiva por parte do parlamentar e de seu advogado comissionado, identificado como Rafael Creato. Segundo a investigação do MP, diversos fornecedores passaram a ser chamados para reuniões com o advogado e com o vereador.
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