População sofre enquanto Prefeitura de Campinas gasta R$ 32 milhões com gestão da UPA Anchieta e diz que “está tudo ótimo”
- Adriano Novo
- 15 de mai.
- 3 min de leitura

Campinas (SP) – A Prefeitura de Campinas está sob forte pressão popular após vir à tona que gastou mais de R$ 32,7 milhões em um contrato com a Associação CISNE, para a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Anchieta. O valor foi revelado em uma ação popular movida por um cidadão campineiro, e contestada pela própria Rede Mário Gatti, responsável pela saúde de urgência e emergência no município.
Em resposta à Justiça, a Prefeitura afirma que o serviço prestado pela UPA está “em conformidade” e que a população estaria “satisfeita” com a qualidade do atendimento. De acordo com a própria administração, a unidade teria alcançado nota 9,7 em avaliações internas feitas entre setembro e novembro de 2024.
A declaração, no entanto, gerou revolta. Nas redes sociais e grupos de moradores, a pergunta ecoa:“Nota 9,7? Será que eles já pisaram numa fila da UPA?”
Contrato milionário, fiscalização caseira
De acordo com os documentos anexados no processo, o contrato nº H00053/2023 foi assinado com valor global de R$ 32.734.554,14 por 24 meses de vigência. Isso significa mais de R$ 1,3 milhão por mês.
Apesar do alto investimento, a fiscalização do contrato é feita pelos próprios servidores da Rede Mário Gatti, o que levanta suspeitas de falta de independência e conflito de interesses.
“Os repasses financeiros à contratada são condicionados à avaliação dos serviços prestados e ao cumprimento das metas estabelecidas contratualmente”, diz o documento.
Na prática, a Prefeitura contrata, executa, fiscaliza e aprova os próprios resultados – um modelo que especialistas em controle público costumam chamar de “autoavaliação viciada”.
“Vai que cola”: Prefeitura desqualifica denúncia e acusa cidadão de oportunismo
A reação da Prefeitura à denúncia gerou ainda mais polêmica. No documento enviado à Justiça, a administração municipal diz que o autor da ação age por “oportunismo puro e simples” e usa o bordão “vai que cola” ao se referir à tentativa de anulação do contrato.
“A falta de documentos indispensáveis, bem como a ausência de alegações objetivas, evidencia que se trata de hipótese de inépcia da inicial. O que se observa, infelizmente, é o oportunismo puro e simples da tentativa de se locupletar à custa do Erário”, afirma trecho da contestação.
A resposta foi vista por muitos como desrespeitosa com a população, que vive na pele a realidade dos serviços públicos de saúde.
População questiona: “32 milhões pra isso?”
Em diversos relatos, moradores denunciam superlotação, esperas de até 8 horas, falta de medicamentos, profissionais sobrecarregados e estrutura precária.
“Eu levei meu filho na UPA e ele ficou sentado numa cadeira de plástico por 5 horas sem ser atendido”, disse uma moradora do Jardim Anchieta.“Faltou médico e o segurança avisou que era melhor voltar no outro dia. Isso é nota 9,7?”, questiona outro morador.
Apesar disso, o relatório da Prefeitura afirma que “a avaliação geral da unidade atingiu 9,5” e que os “pacientes recomendariam a unidade”.
O que diz a Lei?
A ação popular se baseia na alegação de que o contrato é lesivo ao patrimônio público, uma vez que o valor elevado não se reflete na qualidade do serviço prestado. Além disso, o modelo de gestão e fiscalização pode ferir os princípios da legalidade, eficiência e moralidade administrativa previstos no art. 37 da Constituição Federal.
A Prefeitura, por sua vez, defende que tudo foi feito dentro da legalidade, por meio de chamamento público, e que a entidade contratada cumpre suas metas.
O caso segue na 3ª Vara da Fazenda Pública e deverá ser analisado pela Justiça nas próximas semanas.
Pressão nas redes e nas ruas
Enquanto a disputa jurídica avança, cresce a mobilização popular em redes sociais, grupos de bairro e fóruns de saúde. Um abaixo-assinado online pedindo auditoria no contrato já circula, e moradores prometem manifestações.
“Não é só uma questão jurídica, é uma questão moral. R$ 32 milhões para um atendimento precário é um tapa na cara de quem depende do SUS”, afirma um dos apoiadores do movimento.
O autor da ação popular reforça que não se trata de disputa política, mas sim da defesa do direito à saúde com dignidade.
“Não tenho nada contra servidores, nem contra a UPA. Mas tenho muito contra contratos milionários que não trazem resultado para a população. E não vou me calar.”
E você?
Já foi atendido na UPA Anchieta? Acha que merece nota 9,7?
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👉 A saúde é sua. O dinheiro é nosso. A revolta também pode ser.
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